terça-feira, 29 de novembro de 2011

Solidão de mãe

A maternidade é uma solidão sem tamanho. Depois da festa do batizado, os conhecidos desaparecem. Podem até elogiar o bebê e fazer voz infantil em encontros esporádicos. Firma-se uma segregação silenciosa e terrível. É imposição de que a mãe saiba o papel naturalmente e possa suportar a desvalia. Enxergam o filho como um troféu, porém não reparam que o campeonato está no início. Talvez.
Nenhum homem entenderá, mesmo que seja participativo. O humor muda, o corpo perde a sua rigidez e fica tão cansado que nem encontra estímulo para o sexo.
Parece que não haverá saída. Mesmo com a babá, uma escapadela de quinze minutos e já se estará telefonando apavorada para casa, pedindo relatos detalhados dos últimos instantes.
Instala-se a culpa, culpa social de aproveitar a vida, pavor social de que possa vir a ser acusada de negligente. Claro que são fantasmas. Fantasmas da vulnerabilidade.
Ainda bem que ela tem um trabalho para pensar em outra coisa e se sentir útil. Imagina o que sofreram nossas avós?
Adianto, é uma fase provisória. Não é desperdício de tempo, ainda que raros a valorizem. O filho crescerá e descobrirá isso com seus próprios olhos.
Não desanime e procure se distrair. Estabeleça horários para a sua diversão, mesmo que seja um cinema sozinha ou um passeio no parque.
A questão é preservar o raciocínio, a confiança e o humor.
Diante das dificuldades, verbalize e destile veneno. Fale o que a incomoda de cara ao marido ou aos familiares, sem deixar que a preocupação se transforme em raiva reprimida.
A risada e a espontaneidade desestressam.
Não será o jornal ou a fofoca no cabelereiro que a deixarão feliz – se bem que eu não conseguiria viver sem os dois.
O primeiro passo é fortalecer a estima, comprar – por exemplo – flores que sejam para desperta a mudança. Ou escrever um diário para sujar bastante papel e exorcizar a carência.
Não aguardar, guardar as gentilezas.
Não se deixar levar pela rotina, como se não houvesse a possibilidade de algo novo em seu dia.
Não vale se confinar no quarto e se desculpar por antecipação, pois ninguém a entenderá.
Quantas vidas enfrentam uma situação semelhante? Os amigos surgirão da vontade de convivência, da empatia, da identificação, do seu bem-estar. Os amigos são seduzidos, assim como os amores.

A exclusividade apaga a personalidade.

Viver para o filho não é bom: deve-se aprender a viver com ele.

(Fabrício Carpinejar - O Amor esquece de começar – Crônicas /2006)

7 comentários:

  1. Oi ...Vim visitar ...
    Quero deixar aqui minha marca e dizer que gostei muito da cara do blog...
    E gostei muito deste post!

    Beijo

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  2. Nossa tendência é nos distanciarmos da vida social e dos amigos sem filhos mesmo.

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  3. Texto bonito e bem escrito. Mas que é difícil de colocar em prática é. Ainda mais quando se é mãe em período integral e não há babá nenhuma... Mas é um aprendizado e que, com certeza, te deixa mais forte.
    beijos
    Bia
    www.maedacabecaaospes.com.br

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  4. Muito legal essa crônica! Eu gosto dos textos dele, e apesar de ser homem, captou bem essa fase difícil pós parto!
    Beijos,
    Nine

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  5. òtimo texto, mais como a beatriz disse ai em cima fica muito dificil eu moro longe da minha familia e longe de amigos passo mais tempo em casa com renan é complicado mesmo
    beijos ♥

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  6. Muito bom o texto!
    Só não consegui ter esse "momento de distração", pois sem babá, sem parentes por perto, só me restava a net. Abençoada net que me fez companhia. Rs
    Beijos!

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  7. Lindo texto.
    Serve para uma boa reflaxão.Mas também uma injeção de ânimo.
    Os males da maternidade não são exclusividade nossa, e são passageiros.
    Adorei.
    bjus

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