A maternidade é uma solidão sem tamanho.
Depois da festa do batizado, os conhecidos desaparecem. Podem até elogiar o
bebê e fazer voz infantil em encontros esporádicos. Firma-se uma segregação
silenciosa e terrível. É imposição de que a mãe saiba o papel naturalmente e
possa suportar a desvalia. Enxergam o filho como um troféu, porém não reparam
que o campeonato está no início. Talvez.
Nenhum homem entenderá, mesmo que seja
participativo. O humor muda, o corpo perde a sua rigidez e fica tão cansado que
nem encontra estímulo para o sexo.
Parece que não haverá saída. Mesmo com a babá, uma escapadela de quinze
minutos e já se estará telefonando apavorada para casa, pedindo relatos
detalhados dos últimos instantes.
Instala-se a culpa, culpa social de
aproveitar a vida, pavor social de que possa vir a ser acusada de negligente.
Claro que são fantasmas. Fantasmas da vulnerabilidade.
Ainda bem que ela tem um trabalho para pensar em outra coisa e se sentir
útil. Imagina o que sofreram nossas avós?
Adianto, é uma fase provisória. Não é
desperdício de tempo, ainda que raros a valorizem. O filho crescerá e
descobrirá isso com seus próprios olhos.
Não desanime e procure se distrair. Estabeleça horários para a sua
diversão, mesmo que seja um cinema sozinha ou um passeio no parque.
A questão é preservar o raciocínio, a confiança e o humor.
Diante das dificuldades, verbalize e destile veneno. Fale o que a
incomoda de cara ao marido ou aos familiares, sem deixar que a preocupação se
transforme em raiva reprimida.
A risada e a espontaneidade desestressam.
Não será o jornal ou a fofoca no cabelereiro que a deixarão feliz – se
bem que eu não conseguiria viver sem os dois.
O primeiro passo é fortalecer a estima, comprar – por exemplo – flores
que sejam para desperta a mudança. Ou escrever um diário para sujar bastante
papel e exorcizar a carência.
Não aguardar, guardar as gentilezas.
Não se deixar levar pela rotina, como se não houvesse a possibilidade de
algo novo em seu dia.
Não vale se confinar no quarto e se desculpar por antecipação, pois
ninguém a entenderá.
Quantas vidas enfrentam uma situação semelhante? Os amigos surgirão da
vontade de convivência, da empatia, da identificação, do seu bem-estar. Os
amigos são seduzidos, assim como os amores.
A
exclusividade apaga a personalidade.
Viver para o
filho não é bom: deve-se aprender a viver com ele.
(Fabrício Carpinejar - O Amor esquece de
começar – Crônicas /2006)